Diferente do que se possa imaginar, as crianças podem desenvolver ansiedade e levar esses problemas para a vida adulta
Existem diversos motivos que fazem as crianças serem ansiosas. Em alguns casos ela faz parte da personalidade e em outros, a ansiedade pode ser resultado de eventos fortes que aconteceram em sua vida como frustrações, sustos entre outras situações. É normal se sentir ansioso em alguns momentos, afinal, ela existe para ficarmos alertas aos perigos. O problema está quando o organismo não consegue manter os níveis de ansiedade e stress para tomar providências sensatas e o indivíduo, seja criança ou adulto, começa a apresentar comportamentos disfuncionais em situações que não necessitam dessa descarga.
Diferente do que se possa pensar, crianças podem desenvolver quadros de ansiedade que se não observados a tempo e tratados corretamente, podem afetar a trajetória de vida delas. Para tirar todas as dúvidas sobre esse assunto, conversamos com quem mais entende do assunto: a psicóloga infantil, Priscila Badotti. A entrevista completa, você confere abaixo:
O que é ansiedade?
A ansiedade é uma forma de estresse e pode se manifestar física e emocionalmente. Até certo ponto, a ansiedade é considerada normal, pois é uma reação natural e, porque não dizer, essencial para a nossa sobrevivência. Por exemplo, diante de uma ameaça de perigo, ficamos alertas até ter a certeza de que a situação que nos encontramos pode nos colocar em risco, ou não, se devemos ficar e lutar ou correr e fugir. Porém, a ansiedade excessiva, como se estivéssemos em algum tipo de perigo constante, a longo prazo, gera um alto nível de estresse causando, assim, uma grande sensação de desconforto e prejuízos à vida das pessoas. E quando se trata de crianças, a ansiedade excessiva e frequente pode desencadear sintomas desfavoráveis para o desenvolvimento saudável infantil, podendo afetar a concentração, a alimentação, o sono, etc. Um ataque de ansiedade pode começar repentinamente ou gradativamente. Alguns fatores desencadeadores de ansiedade: mudança de casa ou de cidade, perda de um ente querido ou de um animal de estimação, presenciar ou ser vítima de violência, etc.
Como diagnosticar a ansiedade em crianças?
Os pais devem ficar atentos se a criança tiver alterações no comportamento e/ou na rotina, por exemplo, se a criança costumava dormir bem todas as noites e de repente passa a apresentar dificuldade na hora de dormir ou de manter um sono tranquilo durante a noite, pode ser um sinal de alerta. Porém, essa situação deve estar associada a outros comportamentos diferentes do habitual e estar acontecendo na maioria dos dias da semana, durante algumas semanas. Outros sintomas que podem servir de alerta são: choro sem explicação, mudanças nos hábitos alimentares, sentimento de insegurança,” manhas", irritabilidade, apego exagerado com os pais (ou com um dos dois), dificuldade para manter a atenção, medos aparentemente sem sentido como, preocupação excessiva com a escola, com a própria segurança e a de seus familiares, dores de barriga, dores de cabeça, etc. E durante uma crise de ansiedade a criança pode ter sensações físicas como, taquicardia, tontura, sudorese e sentir dificuldades para respirar.
Depois de diagnosticada, quais são os passos para o tratamento?
A identificação e o tratamento precoces dos transtornos de ansiedade podem evitar repercussões negativas na vida da criança. O ideal é buscar ajuda de um psicólogo infantil. Na terapia, com o uso de técnicas lúdicas e conversando com o psicólogo sobre os seus sentimentos, a criança passa a entender o que está acontecendo com ela, que mudanças podem ser feitas para aprender a lidar com o estresse que causa a ansiedade e conseguir superá-lo. Também é importante acolher e orientar a família que, na maioria das vezes, está tão assustada quanto a criança. Em alguns casos é necessário a intervenção de um psiquiatra infantil.
A ansiedade por ser “aprendida”?
Pesquisas apontam fatores genéticos (chances aumentadas para quem tem casos de transtornos de ansiedade na família) e aspectos do ambiente familiar. Neste caso, se o estilo familiar de encarar a vida for sempre de muito medo, preocupações e uma dose extra de ansiedade, a criança também poderá aprender a ver o mundo dessa forma. E, muito pior, se realmente, a criança for criada num ambiente que não ofereça segurança e tranquilidade e tenha perigos iminentes.
Se não houver uma preocupação dos pais quanto ao tratamento, a ansiedade pode evoluir para alguma outra doença?
Sim, devido ao alto nível de estresse, a criança pode desenvolver fobias (específica e social), ataques de pânico, Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG), Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC), episódios depressivos, entre outros.
A ansiedade infantil pode se prolongar para a vida adulta? Quais problemas isso pode acarretar para a pessoa?
Sim, a ansiedade que se inicia na infância, se não for devidamente tratada, poderá ter consequências e complicações na vida adulta, evoluindo para algum transtorno de ansiedade, do humor, entre outros.
Priscila Badotti - Psicóloga Infantil - CRP 08/16319
Contatos: 41 9671-8460
Fonte: www.psicologia-infantil.psc.br